
“Os Dois Morrem no Final” é um romance jovem-adulto escrito por Adam Silvera, lançado em 2017, que mistura drama, romance e reflexões sobre a vida e a morte. A história se passa em um mundo alternativo onde uma empresa chamada Central da Morte liga para as pessoas nas primeiras horas do dia para avisá-las de que elas irão morrer nas próximas 24 horas. Elas não sabem exatamente como ou quando isso acontecerá, apenas que aquele é o seu “último dia”.
O livro acompanha dois personagens principais: Mateo Torrez e Rufus Emeterio, dois jovens que recebem a ligação da Central da Morte no mesmo dia. Eles não se conhecem, mas têm algo em comum — estão prestes a viver seu último dia de vida.
Mateo Torrez é um garoto de 18 anos, introspectivo, tímido, ansioso e muito cuidadoso. Ele é extremamente apegado ao pai, que está em coma no hospital, e também à sua melhor amiga, Lidia, uma jovem mãe que enfrenta dificuldades após perder o namorado. Mateo é do tipo que passou a maior parte da vida evitando riscos, sempre com medo de que algo ruim pudesse acontecer. Receber a ligação da Central da Morte o mergulha em pânico, principalmente porque ele se dá conta de que viveu pouco, sempre se escondendo do mundo.
Rufus Emeterio, também de 18 anos, tem uma personalidade praticamente oposta. Ele é corajoso, extrovertido, impulsivo e vive de forma intensa. Rufus perdeu toda a sua família — pais e irmã — em um acidente de carro. Desde então, vive em um lar adotivo com seus amigos Tagoe, Aimee e Malcolm, que considera como irmãos e que formam o grupo chamado “Plutão”. Apesar da aparência dura, Rufus carrega traumas profundos e muita dor não resolvida.
Na madrugada do dia fatídico, enquanto socava o namorada de sua ex, Rufus é interrompido pela ligação da Central da Morte. Pouco depois, acaba se envolvendo em uma confusão com a polícia e precisa se esconder. É quando decide procurar companhia para seu último dia.
Ambos usam um aplicativo chamado Último Amigo, que conecta pessoas que receberam o aviso de que vão morrer e não querem passar o último dia sozinhas. É assim que Mateo e Rufus se encontram.
O início do relacionamento é estranho, já que são bem diferentes. Mateo, relutante, sequer queria sair de casa. Rufus, mais acostumado a lidar com situações difíceis, incentiva Mateo a quebrar essa bolha e viver, pelo menos por um dia, tudo aquilo que sempre teve medo de experimentar.
Juntos, eles embarcam em uma jornada emocionante pela cidade de Nova York. Visitam lugares significativos, compartilham segredos, enfrentam seus próprios medos e criam memórias que, embora breves, são extremamente poderosas.
Mateo, pela primeira vez, se permite arriscar: canta em karaokês, anda pela cidade sem medo, anda de na garupa da bicicleta de seu amigo. Rufus, por sua vez, encontra em Mateo um equilíbrio que nunca teve. Aprende a desacelerar, refletir, ouvir mais e entender que nem sempre precisa ser forte o tempo todo.
Ao longo do dia, eles também se despedem das pessoas importantes em suas vidas. Mateo visita Lidia e deixa claro o quanto ela é importante para ele. Rufus se reconcilia com Aimee, uma amiga por quem ainda guarda sentimentos, e também se despede dos Plutões.
A conexão entre eles rapidamente se aprofunda e ultrapassa a barreira da amizade. Entre conversas sinceras, risadas e experiências que nunca imaginaram viver, surge um sentimento maior. Eles se apaixonam — um amor que não é baseado no tempo, mas na intensidade, na vulnerabilidade e na necessidade urgente de viver plenamente.
Eles também passam por reflexões profundas sobre o sentido da vida. Falam sobre arrependimentos, sonhos não realizados e como a certeza da morte muda completamente a forma de enxergar tudo.
O desfecho (contém spoiler)
O título do livro não engana: de fato, os dois morrem no final. A obra não tem um final trágico no sentido convencional, mas sim um encerramento agridoce e poético. Mateo morre de forma súbita em um acidente doméstico, algo simples e inesperado — seu fogão explode enquanto preparava um chá. Rufus, pouco depois, morre ao atravessar a rua, sendo atropelado.
O mais doloroso, no entanto, não é exatamente a morte deles, mas sim o fato de que, no pouco tempo que tiveram, viveram mais do que em toda a vida anterior. Eles conseguiram se libertar de seus próprios medos, abrir seus corações e encontrar significado mesmo diante do inevitável.
“Os Dois Morrem no Final” é muito mais do que uma história sobre morte. É uma obra sobre viver. Sobre não adiar sonhos, não esperar o momento perfeito, não se esconder do mundo. É sobre amar, se permitir, ser vulnerável e entender que o tempo é o recurso mais valioso que existe.
O livro provoca no leitor uma pergunta inevitável: “E se hoje fosse seu último dia, você estaria vivendo do jeito que realmente quer?”
Reflexões do Livro – Os Dois Morrem no Final

“Os Dois Morrem no Final” não é apenas uma história sobre morte, mas sim uma narrativa profunda sobre a vida e como escolhemos vivê-la. A proposta central do livro convida o leitor a refletir sobre algo que, na maioria das vezes, é evitado: a finitude da existência. Ao apresentar um mundo onde as pessoas sabem com antecedência que irão morrer nas próximas 24 horas, Adam Silvera nos obriga a pensar sobre como seria a nossa própria vida se tivéssemos essa certeza.
O primeiro grande ponto de reflexão é sobre como adiamos a vida. Muitas vezes, deixamos nossos sonhos, vontades e desejos para depois, acreditando que sempre haverá tempo. O livro escancara essa ilusão ao mostrar como Mateo, por exemplo, viveu a maior parte da vida preso em sua zona de conforto, paralisado pelo medo. Só ao saber que a morte era inevitável e iminente, ele se permitiu, pela primeira vez, viver de verdade: sair de casa, explorar a cidade, cantar, se apaixonar e criar memórias. Isso levanta uma pergunta crucial: por que esperamos uma urgência extrema para começar a viver?
Outro tema central é a reflexão sobre a importância das conexões humanas. Rufus e Mateo, dois estranhos que se encontram no pior dia de suas vidas, acabam construindo uma conexão verdadeira, intensa e profundamente significativa. Isso mostra que, às vezes, pessoas inesperadas podem transformar completamente nossa história. Em um mundo tão conectado digitalmente, mas tão desconectado emocionalmente, o livro traz uma crítica sutil sobre como negligenciamos os vínculos, o afeto e os relacionamentos que realmente importam.
O livro também faz refletir sobre o fato de que não temos controle sobre o tempo que nos é dado, mas temos controle sobre o que fazemos com ele. A ideia de que a morte pode chegar a qualquer momento muda completamente a perspectiva dos personagens e, consequentemente, do leitor. Vemos como, em um único dia, eles vivem experiências que poderiam preencher uma vida inteira em termos de significado, intensidade e transformação pessoal. Isso mostra que qualidade importa mais que quantidade.
Há também uma reflexão muito sensível sobre o medo. Tanto Rufus quanto Mateo, de formas diferentes, são dominados por medos: medo da solidão, do sofrimento, da rejeição, do desconhecido e, claro, da própria morte. Mas quando confrontados com o fim, percebem que o medo, muitas vezes, é uma prisão autoimposta que nos impede de experimentar o que há de melhor na vida. O livro mostra que o enfrentamento do medo — seja sair de casa, amar alguém ou se despedir — pode ser libertador e profundamente transformador.
Além disso, há uma crítica implícita ao modo como a sociedade encara a morte. A existência da Central da Morte gera discussões no mundo do livro sobre ética, privacidade e como viver sabendo exatamente quando se vai morrer. Isso convida o leitor a refletir sobre como a nossa sociedade muitas vezes evita falar sobre morte, como se ignorá-la fosse uma forma de não ser afetado por ela. Mas a verdade é que, quanto mais aceitamos a finitude, mais conseguimos valorizar a vida.
Por fim, “Os Dois Morrem no Final” nos lembra que o amor não está condicionado ao tempo, mas sim à conexão e à entrega. A história de Rufus e Mateo, embora curta, é intensa, sincera e profunda. Eles se apaixonam não porque tiveram anos juntos, mas porque foram absolutamente verdadeiros um com o outro no pouco tempo que tiveram. Isso nos faz repensar como medimos o amor e os relacionamentos na vida real.
Em síntese, a grande reflexão que o livro deixa é que esperar pela ocasião perfeita, pelo momento ideal ou pela ausência de riscos é, na verdade, desperdiçar a vida. A morte é inevitável para todos, mas viver de forma plena, corajosa e significativa é uma escolha. E essa escolha começa agora, no presente, enquanto ainda temos tempo.
Curiosidades Sobre o Autor Adam Silvera e o Processo de Escrita

Adam Silvera é um escritor americano nascido no Bronx, Nova York, em 7 de junho de 1990. Filho de uma mãe porto-riquenha, ele cresceu em um ambiente humilde e sempre se interessou por histórias que abordassem a vida, a perda e as emoções humanas de forma realista e sensível. Antes de se tornar escritor, trabalhou como livreiro, assistente de marketing e revisor de conteúdo para editoras — experiências que o aproximaram do mercado literário e, principalmente, dos leitores jovens.
Como Surgiu “Os Dois Morrem no Final”
A ideia para “Os Dois Morrem no Final” surgiu quando Adam refletiu sobre uma pergunta muito profunda: “Se soubéssemos exatamente o dia da nossa morte, o que faríamos com o tempo que nos resta?”. Ele sempre teve uma relação muito intensa com os temas de finitude, perdas e saúde mental, tanto por vivências pessoais quanto pela própria natureza sensível de seu olhar para o mundo.
Silvera revelou em entrevistas que o processo de escrita desse livro foi emocionalmente desafiador. Escrever sobre a morte e sobre aproveitar o presente exigiu dele não só técnica, mas também vulnerabilidade. Em certos momentos, ele precisou fazer pausvas na escrita, pois revivia sentimentos difíceis e profundas reflexões sobre sua própria vida.
Influências do Autor
O autor cresceu fã de livros de fantasia, ficção científica e literatura jovem-adulta (YA). Entre seus escritores favoritos estão J.K. Rowling, Neil Gaiman e David Levithan, este último inclusive se tornou uma inspiração direta por também tratar de temas LGBTQIA+ em seus livros. Silvera buscou construir narrativas que, além de representar personagens queer, falassem sobre amor, amizade e, acima de tudo, humanidade — sem cair em estereótipos.
Um Livro Que Quase Não Foi Publicado
Apesar do enorme sucesso, “Os Dois Morrem no Final” quase não viu a luz do dia. Adam relatou que, durante o processo de escrita, duvidou muito se o tema não seria considerado sombrio demais para o público jovem. Além disso, ele tinha receio de que a proposta do Death-Cast (a empresa fictícia que prevê a morte) fosse vista como fantasiosa demais para um livro com um tom tão realista e emocional. No entanto, o equilíbrio entre ficção e reflexão humana foi justamente o que tornou a obra tão marcante.
Sucesso Além das Páginas
Depois da publicação, o livro se tornou um best-seller global, figurando por meses nas listas do New York Times. Adam Silvera se surpreendeu especialmente com o impacto no TikTok, onde vídeos de leitores emocionados viralizaram, fazendo o livro ganhar ainda mais notoriedade anos depois de sua publicação.
O sucesso foi tanto que “Os Dois Morrem no Final” ganhará uma adaptação para série pela HBO, com produção já confirmada. Além disso, Adam lançou uma prequel chamada “The First to Die at the End” (em português, “O Primeiro a Morrer no Final”), aprofundando ainda mais o universo e a origem do Death-Cast.
A Escrita Como Cura
Para Adam Silvera, escrever é também uma forma de terapia. Ele fala abertamente sobre viver com transtorno bipolar e como a literatura o ajuda a lidar com suas emoções, seus altos e baixos e seus questionamentos existenciais. Seus livros são, antes de tudo, uma carta de amor à vida — mesmo quando falam da morte
05 Livros com temáticas parecidas com Os Dois Morrem no Final

1. “A Cinco Passos de Você” — Rachael Lippincott
Dois adolescentes, Stella e Will, se conhecem em um hospital, ambos com fibrose cística. Eles se apaixonam, mas precisam manter uma distância física de pelo menos cinco passos, pois o contato pode ser fatal. O livro aborda como o amor, a vida e os desejos podem florescer mesmo quando o tempo e as circunstâncias estão contra eles.
2. “Por Lugares Incríveis” — Jennifer Niven
Theodore e Violet se conhecem em um momento crítico da vida de ambos. Ele luta contra pensamentos suicidas; ela vive o luto pela morte da irmã. Juntos, eles embarcam em uma jornada para descobrir lugares incríveis e, ao mesmo tempo, encontram sentido um no outro. Assim como Os Dois Morrem no Final, é um livro que mistura amor, vulnerabilidade e o peso da finitude.
3. “Todo Dia” — David Levithan
A cada dia, “A”, um ser sem corpo fixo, acorda em um corpo diferente. Tudo muda quando se apaixona por Rhiannon e tenta, de todas as formas, manter essa conexão apesar das circunstâncias impossíveis. O livro questiona o que define uma vida, uma identidade e como viver plenamente no tempo que se tem.
4. “Eleanor & Park” — Rainbow Rowell
Embora não trate diretamente da morte, o livro aborda dois adolescentes que vivem realidades difíceis e encontram, um no outro, uma fuga, amor e redenção. Fala sobre aproveitar o tempo juntos, mesmo sabendo que o mundo ao redor não facilita essa conexão.
5. “Antes de Partir” — Lauren Oliver
Samantha, uma jovem popular, morre em um acidente de carro, mas acorda revivendo o mesmo dia por sete vezes. Ao repetir o dia, ela percebe as consequências de suas atitudes e busca entender o que realmente importa na vida. O livro mergulha profundamente em temas como redenção, propósito, amizade e o valor do presente.
Refletindo Sobre a Vida, a Morte e o Sentido de Existir

“Os Dois Morrem no Final” não é apenas um livro sobre a morte. Na verdade, é um convite para refletirmos sobre como estamos vivendo. A consciência da nossa própria mortalidade, muitas vezes evitada ou ignorada, pode ser um dos maiores impulsos para uma vida mais plena, autêntica e significativa. Afinal, se o tempo é finito, cada escolha, cada conversa e cada momento ganham um novo valor.
Falar sobre morte é, na verdade, falar sobre a vida. É encarar nossas fragilidades, aceitar o ciclo natural da existência e aprender a priorizar o que realmente importa: conexões humanas, amor, empatia, coragem e presença.
Se você, leitor, deseja se aprofundar nesse tema — que é tão universal quanto desafiador — existem muitos caminhos possíveis. A filosofia, a literatura e até a psicologia oferecem reflexões profundas sobre a finitude, o luto e o significado da vida.
Livros para refletir sobre a mortalidade:
- Meditações, de Marco Aurélio – Reflexões de um imperador estoico sobre a brevidade da vida e o valor do presente.
- A Morte é um Dia que Vale a Pena Viver, de Ana Claudia Quintana Arantes – Uma médica que traz uma visão sensível e humanizada sobre o fim da vida.
- Quando Nietzsche Chorou, de Irvin D. Yalom – Um romance filosófico que aborda angústias existenciais, incluindo a finitude.
- O Livro Tibetano do Viver e do Morrer, de Sogyal Rinpoche – Uma obra espiritual que trata da morte como parte essencial da jornada humana.
- A Morte, de Todd May – Um livro filosófico, curto e direto, que explora o que a morte significa para nossa experiência de vida.
Filósofos e Correntes Filosóficas para Estudar:
- Estoicismo: Ensinamentos de Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio, que falam sobre como lidar com a impermanência e encontrar serenidade na finitude.
- Existencialismo: Corrente que inclui Sartre, Simone de Beauvoir, Albert Camus e Viktor Frankl, abordando temas como liberdade, morte, angústia e o sentido da vida.
- Filosofia Oriental: Ensinamentos budistas e taoístas oferecem uma perspectiva sobre a aceitação da impermanência e do fluxo natural da vida e da morte.
Palestras e Documentários:
- TED Talks:
- “O que aprendi com a morte de minha filha”, de Michele Weldon.
- “Lições que aprendi do cuidado de pacientes terminais”, de Lucy Kalanithi.
- Documentário: “Encontro com a Morte” (Netflix) – Uma série que aborda diferentes visões culturais e pessoais sobre o fim da vida.
- Palestras de Clóvis de Barros Filho: Filosofia aplicada à vida, felicidade e mortalidade.
Reflexão Final:
No fim, talvez a verdadeira questão que “Os Dois Morrem no Final” nos propõe não seja “como evitar a morte”, mas sim “como aproveitar a vida, sabendo que ela vai acabar”. A consciência da finitude não precisa ser um peso, mas sim uma libertação. Uma oportunidade de viver com mais intensidade, amor e presença.
Que essa reflexão seja um lembrete: o tempo é agora.